A GARÇA
Ei-la triste a mirar as águas irrequietas,
Parecendo evocar em visões luminosas
O passado de amor, as estâncias diletas,
Outro céu bem distante, outras margens formosas!
Exilada talvez das paragens ditosas,
Onde outrora gozou de alegria discretas,
Quer as asas de neve, essas asas plumosas
Espalmar pelo azul e voar como as setas.
Mas coitada! Não pode atingir as alturas,
Pois alguém a privou de fruir as venturas
Do inocente viver, da feliz liberdade.
Como a garça, tristonha, eu me sinto finar,
E não posso fugir... e não posso voar
Tenho aqui de carpir a tristeza, a saudade.
Francisca Clotilde, A Estrella, set. de 1918
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